Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mais sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
sê apenas uma senda,
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso…
Mas sê o melhor no que quer que sejas.


 

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Poema

Para que tú me oigas
mis palabras
se adelgazan a veces
como las huellas de las gaviotas en las playas.

Collar, cascabel ebrio
para tus manos suaves como las uvas.

Y las miro lejanas mis palabras.
Más que mías son tuyas.
Van trepando en mi viejo dolor como las yedras.

Ellas trepan así por las paredes húmedas.
Eres tú la culpable de este juego sangriento.

Ellas están huyendo de mi guarida oscura.
Todo lo llenas tú, todo lo llenas.

Antes que tú poblaron la soledad que ocupas,
y están acostumbradas más que tú a mi tristeza.

Ahora quiero que digan lo que quiero decirte
para que tú las oigas como quiero que me oigas.

El viento de la angustia aún las suele arrastrar.
Huracanes de sueños aún a veces las tumban.

Escuchas otras voces en mi voz dolorida.
Llanto de viejas bocas, sangre de viejas súplicas.
Ámame, compañera. No me abandones. Sígueme.
Sígueme, compañera, en esa ola de angustia.

Pero se van tiñendo con tu amor mis palabras.
Todo lo ocupas tú, todo lo ocupas.

Voy haciendo de todas un collar infinito
para tus blancas manos, suaves como las uvas

 
 
Neruda
 

A Palavra

… Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que
sobem e baixam … Prosterno-me diante delas… Amo-as, uno-me a elas,
persigo-as, mordo-as, derreto-as … Amo tanto as palavras … As
inesperadas … As que avidamente a gente espera, espreita até que de
repente caem … Vocábulos amados … Brilham como pedras coloridas, saltam
como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho … Persigo algumas
palavras … São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema …
Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as,
preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas,
vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas …
E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as,
liberto-as … Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de
madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda …
Tudo está na palavra … Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de
lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não
a esperava e que a obedeceu … Têm sombra, transparência, peso, plumas,
pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de
tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes … São antiqüíssimas e
recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada …
Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos …
Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas
encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro,
ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no
mundo … Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às
que eles traziam em suas grandes bolsas… Por onde passavam a terra ficava
arrasada… Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das
ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui
resplandecentes… o idioma. Saímos perdendo… Saímos ganhando… Levaram o
ouro e nos deixaram o ouro… Levaram tudo e nos deixaram tudo…
Deixaram-nos as palavras.

Pablo Neruda
*Butifarra: espécie de chouriço ou lingüiça feita principalmente na
Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)

Do livro "Confesso que Vivi — Memórias", Difel — Difusão Editorial — Rio de
Janeiro, 1978, pág. 51, traduzido por Olga Savary, extraímos o texto acima.

Com este texto homenageamos o poeta pela passagem de seu 100º aniversário.

Pablo Neruda, pseudônimo de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nasceu a 12 de
julho de 1904, em Parral, no Chile. Prêmio Nobel de Literatura em 1971, sua
poesia transpira em sua primeira fase o romantismo extremo de Walt Whitman.
Depois vieram a experiência surrealista, influência de André Breton, e uma
fase curta bastante hermética. Marxista e revolucionário, cantou as
angústias da Espanha de 1936 e a condição dos povos latino-americanos e seus
movimentos libertários. Diplomata desde cedo, foi cônsul na Espanha de 1934
a 1938 e no México. Desenvolveu intensa vida pública entre 1921 e 1940,
tendo escrito entre outras as seguintes obras: "La canción de la fiesta",
"Crepusculario", "Veinte poemas de amor y una canción desesperada",
"Tentativa del hombre infinito", "Residencia en la tierra" e "Oda a
Stalingrado". Indicado à Presidência da República do Chile, em 1969,
renuncia à honra em favor de Salvador Allende. Participa da campanha e,
eleito Allende, é nomeado embaixador do Chile na França. Outras obras do
autor: "Canto General", "Odas elementales", "La uvas y el viento", "Nuevas
odas elementales", "Libro tercero de las odas", "Geografía Infructuosa" e
"Memorias (Confieso que he vivido — Memorias)". Morreu a 23 de setembro de
1973 em Santiago do Chile, oito dias após a queda do Governo da Unidade
Popular e da morte de Salvador Allende.

Antes de…

Antes de Amar-te…

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

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Neruda

 

A Canção Desesperada

 

 

Tua lembrança emerge desta noite em que estou.

O rio e o mar enlaçam seu lamento obstinado.

 

Abandonado como um cais na madrugada.

É a hora de partir, oh abandonado!

 

Sobre o meu coração chovem frias corolas.

Oh sentina de escombros, feroz gruta de náufragos!

 

Em ti se acumulam os voos e as guerras.

De ti ergueram asas os pássaros do canto.

 

Tu devoraste tudo, qual devora a distância.

Como o mar, como o tempo. Tudo em ti foi naufrágio!

 

Era a hora ditosa do assalto e do beijo.

Era a hora do êxtase que ardia como um facho.

 

Uma ânsia de piloto ou de mergulhador cego,

turva embriaguez de amor, tudo em ti foi naufrágio!

 

Na infância de névoa, minha alma alada e ferida.

Descobridor perdido, tudo em ti foi naufráfio!

 

Tu cingiste-te à dor, prendeste-te ao desejo.

Derrubou-te a tristeza, tudo em ti foi naufrágio!

 

Fiz recua então a muralha de sombra,

caminhei para além do desejo e do acto.

 

Oh carne, carne minha, ó amada que perdi,

a ti nesta hora húmida evoco e torno cântico.

 

Como um vaso guardaste a infinita ternura

e o infinito olvido partiu-te como um vaso.

 

Era a solidão, solidão negra das ilhas,

e ali, mulher de amor, me acolheram teus braços.

 

Era a seda e a fome, e então foste os frutos.

Era a dor e as ruínas e tu foste o milagre.

 

Ah, mulher, eu não sei como pudeste conter-me

na terra da tua alma e na cruz dos teus braços!

 

Meu desejo de ti foi terrível e breve,

o mais revolto e ébrio, o mais tenso e mais ávido.

 

Cemitério de beijos, ainda há fogo em teus túmulos,

ainda os cachos ardem picados pelos pássaros.

 

Oh boca mordida, oh membros beijados,

oh os famintos dentes, os corpos entrançados!

 

Oh a cópula louca de esperança e esforço

em que ambos nos atamos e nos desesperamos.

 

E a ternura, suave como a água e a farinha.

E a palavra que mal começava nos lábios.

 

Esse foi meu destino, nele singrou minha ânsia,

nele caiu minha ânsia, tudo em ti foi naufrágio!

 

Oh sentina de escombros, em ti tudo caía,

que dor não exprimiste, que ondas não te afogaram!

 

De queda em queda ainda chamejaste e cantaste.

De pé como um marujo sobre a proa de um barco.

 

Floresceste ainda em cantos e brotaste em correntes.

Oh sentina de escombros, poço aberto e amargo.

 

Mergulhador cego e pálido, derrotado e fundeiro,

descobridor perdido, tudo em ti foi naufrágio!

 

É a hora de partir, a hora dura e fria

com que a noite domina todo o horário.

 

O cinturão ruidoso do mar abraça a costa.

Surgem frias estrelas, emigram negros pássaros.

 

Abandonado como um cais na madrugada.

Somente a sombra trémula se torce em minhas mãos.

 

Ah, para além de tudo! Ah, para além de tudo!

 

É a hora de partir. Oh abandonado!

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