” A poesia é sempre perigosa…”

“A poesia será uma forma de aproximação do Ser. E então quando a poesia não se distingue da mística? Quando os dois processos estão unidos? – Aí se dará a sua exultação.
(…)
Por isso, toda a experiência mística ou poética, é pânica. Ela traz em si mesma, como a visão e a participação, coexistência, do absoluto no efémero humano, uma tensão última, a custo suportável.

Por isso, a contemplação e fruição do absoluto que concede a mística e a poesia, é sempre perigosa para um frágil mortal. Ele é o que nesse preciso instante, nítido e imponderável, deve suportar no seu corpo e alma, a junção entre o ser e o cosmos.”

13-V – 1971

In A FORÇA DO MUNDO de Dalila L. Pereira da Costa

 

Minha Sombra Sou Eu

 

 

A minha sombra sou eu,

ela não me segue, eu estou na minha sombra

e não vou em mim.

Sombra de mim que recebo a luz,

sombra atrelada ao que eu nascia

distância imutável de minha sombra a mim

toco-me e não me atinjo,

só sei do que seria

se de minha sombra chegasse a mim.

Passa-se tudo em seguir-me finjo que sou eu que sigo,

finjo que sou eu que vou

e não que me persigo.

Faço por confundir a minha sombra comigo:

estou sempre às portas da vida,

sempre lá, sempre às portas de mim!

 

 

Almada Negreiros, in "poemas"

 

 

 

Secret Landscape

 

 

 

Distante a olhar secreta,

   Inquieto

      O movimento que desmente

      A linha desvenda

   O rodopio do espaço

Enquanto a mão desprende o corpo,

      Obsceno

   O cio se tece

 

                        Sombreando

   Pela terra densa

O segredo que ao olhar acena,

E acerca nesse nem onde,

   Intenso

      O desejo que distende a linha

                                        Tala

 

      A dispersão da tela

Quando na mão o som encena,

      Obsceno

 

O segredo que ao olhar se entende.

 

 

Alan Nuttall

 
 

Improviso_1

 

 

Na tua voz cristalina

Existe a diversidade

Policromática da cor;

Em cada sílaba,

A harmonia convicta

Da pura liberdade feminina

Na tua voz de silêncio

As tuas palavras,

Sorrindo, me encantam.

 

No teu cabelo

De fios em ouro

Repousam lembranças

De infãncias futuras

Indiferentes e cuidadas

Em sonhos inconscientes

De dávidas de amor

 

Nos integrantes

Teus olhos

Brilham espaços

De verdade e rigor

E, na graça natural

Floresce a simplicidade

Influente do teu querer

Nobre, belo

Em profundezas de mar

E preciosas paisagens

 

Dos angélicos

Lábios teus

Incógnitos, molhados

De primaveras

Por vir,

Também serenos, então

Viajam  nublosas

Em fragmentos

Hoje distantes

 

 

 

Joaquim Carlos

 

 

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