Eu Sou Tudo

 
 

EU SOU TUDO

J. Krishnamurti


Eu sou o firmamento azul e a nuvem negra.

Eu sou a cachoeira e o som que ela produz

Eu sou a imagem esculpida e a pedra abandonada,

Eu sou a rosa e a pétala que tomba

Eu sou a flor do campo e o Lótus sagrado

Eu sou as águas santas e a lagoa tranqüila

Eu sou a arvore de cima das montanhas

Eu sou a haste da erva na plácida alameda

Eu sou o primaveril rebento e a copa sempre verde.

Eu sou o bárbaro e o sábio

Eu sou o piedoso e o ímpio

Eu sou o devoto e o herege

Eu sou a meretriz e a virgem

Eu sou o liberto e o homem no tempo

Eu sou a renúncia e o possuidor orgulhoso

Eu sou o destrutível e o indestrutível,

Eu não sou Isto nem Aquilo

Não sou o liberto, nem aquele ainda enleado,

Não sou o céu nem o inferno

Não sou as filosofias nem os credos

Não sou o Guru nem o discípulo

Amigo,

Eu tudo contenho.

Sou límpido qual o veio da montanha,

Simples como a folha primaveril que rebenta.

Poucos me conhecem.

Felizes aqueles

Que deparam comigo.



A ESTRELA – Vol. I – N. 10 – DEZEMBRO DE 1928

Krishnamurti e o “Medo”

 

 

O pensamento é a origem do medo

 

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" O pensamento é a origem do medo. Se não houvesse pensamento, não haveria medo. Se nenhum pensamento tivéssemos a respeito da morte (como, por exemplo, “que aconteceria se eu morresse?”) e a morte ocorresse neste mesmo instante, não teríeis medo nenhum. É o pensamento a respeito da morte que vos infunde temor — temor "

 

Krishnamurti 

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“O Medo”

 
 
 
“Assim, o homem que deseja compreender a morte tem de compreender a vida.
E o viver não é isso que chamamos “viver”, esse campo de batalha existente tanto em nosso interior como exteriormente.
O viver é coisa inteiramente diferente, na qual nenhum medo existe.
E para nos livrarmos do medo temos de estar livre desde o começo, para podermos examiná-lo, investigá-lo, penetrá-lo.
Vê-se então que viver é morrer, porque o viver é de momento em momento.
O que tem continuidade é o desespero e não o viver; e quando há desespero, é claro que há pensamento.
É desse modo que se cria o círculo vicioso do pensamento.
O problema da vida consiste unicamente em operar-se uma mutação, não numa data futura, porém imediatamente, instantaneamente; e essa mutação instantânea só pode verificar-se quando estais completamente atento”.
 
“Para compreenderes a vida, não podeis negar a vida.
Para compreendê-la, tendes de vivê-la.
E não podeis vivê-la se não sois livre, livre desde o começo, desde a infância mesmo, para olhar, observar, escutar, sentir.
Em virtude desses observar, escutar, olhar, a pessoa se torna delicada, afetuosa, atenciosa, cortês: Há então um próximo.
Onde há consideração há afeição, e esta não é produto do intelecto.
E, quando tendes tal afeição, talvez então daí provenha o amor – não no tempo, não amanhã”.
 
 
KRISHNAMURTI, Jiddu. Viagem por um Mar Desconhecido. Tradução de Hugo Veloso. São Paulo: Editora Três, 1973.
 

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É possível a mente Humana poder perceber a Verdade?

 
 
Pergunta: É possível a mente humana poder perceber a verdade?
 Krishnamurti: Pode a mente humana perceber a verdade? Acho que não pode. O que é presentemente a mente humana? Existe uma mente humana, ou é meramente a resposta instintiva do animal que continua em nós? Não é uma observação sarcástica!
 
 
Em primeiro lugar, para perceber qualquer coisa na vida, e muito mais a verdade – para perceber a minha mulher, o meu vizinho, o meu filho – tem que existir uma certa calma na mente, não uma calma disciplinada – nesse caso não é calma, é uma mente sem vida. Ora, uma mente em conflito não deixa observar nada, observar eu próprio. Portanto, estou em permanente conflito, em constante movimento, a mexer, mexer, a falar, eternamente a fazer perguntas, a explicar; aí não é possível haver qualquer observação. É isso que a maior parte de nós faz, quando estamos perante ‘o que é’. Portanto, vemos que só pode haver observação quando não há conflito. Para não haver conflito, podemos tomar um tranquilizante, um comprimido, para ficarmos tranquilos, mas não é isso que dá percepção, isso faz-nos é dormir; e isso é provavelmente o que a maior parte de nós quer. Ora, para observar, tem que haver uma certa tranquilidade na mente; e se se vê ou não o que é a verdade, depende da qualidade da mente.
A verdade não é algo estático. A verdade não é algo fixo – que não tem poder. É algo que deve ser vivo, tem que ser extraordinariamente sensível, vivo, dinâmico, vital. E como é que uma mente pútrida e débil que está em tumulto, permanentemente mordida pela ambição – como é que pode compreender isso? Pode dizer que há a verdade e repeti-lo continuamente e deixar-se adormecer.
Assim, a questão é, realmente, não se a mente humana pode compreender a verdade, mas se é possível derrubar os muros da mesquinhês que o homem construiu à sua volta e a que chama mente – essa é de facto a questão. Um dos muros de que todos nós gostamos tanto é a autoridade.
 
‘Collected Works’ [Colectânea], vol. 13, 1962-1963. Revolução Psicológica Varanasi, Índia
2ª Palestra Pública, 3 de Janeiro, 1962
© Krishnamurti Foundation of America